Duplo preconceito: a difícil tarefa de ser LGBT e portador de deficiência

O preconceito e a violência contra a população LGBT é mais do que conhecido no Brasil. Somos o país que mais mata pessoas LGBT no mundo, segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB). Aproximadamente a cada 25 horas uma pessoa é vítima de LGBTfobia no Brasil, mas o número pode ser bem maior por causa da subnotificação.

Agora imagine ser LGBT e portador de deficiência. A realidade é ainda mais difícil para gays, lésbicas, trans, travestis e bissexuais que além de terem de lidar com o preconceito por causa de sua sexualidade, ainda têm de lidar com o preconceito por serem PcD. O que é pior, esse preconceito existe dentro da própria comunidade LGBT.

Cadeirante desde os oito anos, a publicitária Fatine Oliveira resolveu contar suas experiências em um blog, o ‘Disbuga’, onde fala sobre a vida das pessoas com deficiência. Ela faz um paralelo sobre sua condição física e o fato de ser LGBT.

“Se nossa cultura assume uma postura de repulsa com o que não lhe é dito como natural, como ficamos nós, pessoas com deficiência, em meio a esse fogo cruzado?”, questiona e ela mesmo responde: “Nossa sexualidade é nula. Ponto final. Não há discussão a esse respeito, por mais que os estabelecimento de relações humanas se dê muitas vezes a partir desse ato considerado biológico, ele não está permitido se você não tiver seu corpo funcionando com destreza”, afirma.

A condição de ser PcD e LGBT ao mesmo tempo também já foi tema de reflexão do presidente do Grupo Gay de Alagoas (GGAL), Nildo Correia. 

“Ser minoria dentro da minoria. Assim vivem milhares de pessoas em todo o mundo, inclusive no Brasil. São deficientes físicos que se sentem atraídos por pessoas do mesmo sexo. Some o preconceito com a homossexualidade ao preconceito para com o deficiente físico. Agora  multiplique pelo que ele sofre dentro da própria comunidade homossexual. Como suportar tanta hostilidade? Com paciência e perseverança, dádivas que encontramos em abundância em quem tem necessidades especiais”, ressalta.

Corrêia aponta ainda as dificuldades que LGBTs com deficiência têm para encontrar um grande amor, por causa de uma tendência, principalmente entre os gays, de cultivarem corpos perfeitos, o que exclui quem precisa de uma cadeira de rodas para se locomover.

“O grau de dificuldade na conquista de um companheiro, depende muito de como a pessoa deficiente, encara a deficiência, se tem muitos preconceitos em relação a ela mesma, se se aceita, se gosta de si mesma. Outros pontos externos também valem muito: se estuda ou estudou, se trabalha, se consegue ganhar dinheiro, se pode comprar as coisas de que precisa, se consegue sustentar-se e satisfazer as suas necessidades diárias, sem muita dependência de outras pessoas. Tudo isto conduz a um maior bem-estar pessoal, a uma melhor posição perante a vida e a uma maior alegria de viver”, destaca Corrêia.

Representatividade

Em artigo recente publicado na revista Carta Capital, o médico Vinicius Lacerda questiona “onde está a representatividade da pessoa com deficiência no meio LGBTQIA+?”. 

Na publicação, Lacerda fala sobre o assunto a partir das experiências de duas pessoas que tratam diariamente sobre o tema nas redes sociais: Priscila Siqueira, uma das administradoras da página @pcdvale, no Instagram e Victor di Marco (@victordimarco), influenciador digital e militante da causa PcD LGBTQIA+.

De acordo com Priscila, as PcD enfrentam dificuldades para se inserir em ambientes frequentados por LGBTs não só pela falta de acessibilidade em bares, restaurantes e boates, mas também pelo que ela chama de “segregação capacitista” dentros da próproa comunidade LGBTQIA+. 

“O capacitismo”, explica, “é o preconceito contra pessoas com deficiência e não se trata apenas de violência física ou verbal contra as PcD, mas também de pena, de que a deficiência deve ser sempre algo a ser superado ou que aquelas que adquirem algum sucesso na carreira ou na vida pessoal devem ser exaltadas pela sua superação”.

Priscila aponta ainda que muitas PcD nem se assumem como LGBTs para não reforçar ainda mais os preconceitos que já sofrem. “Essas pessoas possuem sim desejos sexuais e afetivos, que muitas vezes são invisibilizados e negligenciados pela sua condição e pelo capacitismo”, ressalta.

Já Victor di Marco aponta que há uma dificuldade ainda maior no meio gay por causa da exigência de corpos idealizados. Ele destaca que os aplicativos de relacionamento para homens gays são capacitistas, tanto por não serem equipados com facilidades na acessibilidade quanto pelos próprios usuários.

“Quando você começa a falar com a pessoa e resolve encontrá-la, se sente na obrigação de falar que tem uma deficiência, mas ao mesmo tempo isso não deveria ocorrer, porque é algo natural, e muitos desistem do encontro ao descobrir que você é uma PcD”, afirma, reforçando que a PcD muitas vezes não é vista como corpo sexual ou que possui desejos e vontades como qualquer outra pessoa. “É simplesmente taxado como deficiente”, conclui.

Se informe!

A invisibilidade das PcD LGBTQIA+ ainda parece ser uma regra na comunidade, mas diversas pessoas tentam mudar essa regra diariamente, por meio das redes sociais, mostrando que ser PcD não é impedimento para absolutamente nada.  Conheça algumas delas e lembre-se: deficiente é o seu preconceito!

Amiel Vieira – https://www.instagram.com/amielvieira/

Ana Cuentro – https://www.instagram.com/anacuentro 

Andreia de Oliveira – https://www.instagram.com/falamesmodeia/

Beleza na Diversidade – https://www.instagram.com/belezanadiversidade/ 

Elton Cadeirante – https://www.facebook.com/Elton-Cadeirante-223343955088538/

Gata de Rodas – https://www.instagram.com/gataderodas 

Giovanni Venturini – https://www.instagram.com/gioventurini/ 

Icaro Rodrigues – https://www.instagram.com/icarorodrigues22/ 

Lais Souza – https://www.instagram.com/lalikasouza

Leandrinha Du Art – https://www.instagram.com/leandrinhadu

LGBTs com Deficiência: Somos Capazes (grupo) – https://www.facebook.com/groups/lgbtscomdeficiencia/

Mano Castro – https://www.instagram.com/manoocastro/

Pedro Fernandes – https://www.facebook.com/mundopedrofernandes

https://www.instagram.com/mundopedrofernandes/

Priscila Siqueira – https://www.instagram.com/prisciqueira/  

Renata Lellis – https://www.instagram.com/ativistainclusiva/ 

Stefany Krebs – https://www.instagram.com/stefanykrebs11/ 

Val Silva – https://www.instagram.com/cadeirantenoestilo/ 

Vale Pcd – https://www.instagram.com/pcdvale/ 

Vanessa de Oliveira – https://www.instagram.com/vanessagrao Victor di Marco – https://www.instagram.com/victordimarco/

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