Grupo Gay da Bahia inicia campanha para santificar índio gay executado em 1614
O Grupo Gay da Bahia (GGB) começou uma campanha para santificar o índio Tibira do Maranhão, executado em 1614 por ser homossexual. Em artigo publicado no jornal Correio, o antropólogo Luiz Mott, fundador e diretor do GGB, afirmou que a entidade reivindica, junto à Igreja Católica, o reconhecimento da santidade de Tibira.
“Esse martírio ocorreu em 1614, poucos meses após a instalação dos franceses no Maranhão: liderados pelo capuchinho Frei Yves d’Evreux, que foram informados da existência de um famoso ‘Tibira’, termo da língua tupi para descrever os índios homossexuais. Na época a sodomia era considerada pela Cristandade ‘o mais torpe, sujo e desonesto pecado’.”, explica Mott.
Mott conta no artigo que os capuchinhos ordenaram a prisão e execução de Tibira para “evitar um temido castigo divino e aterrorizar eventuais futuros amantes do mesmo sexo”. Com isso o índio gay foi sumariamente julgado, batizado e condenado à morte. Estouraram o Tibira amarrado na boca de um canhão, ao pé do Forte de São Luís, caindo seu corpo estraçalhado na baía de São Marcos, “para limpar a nova conquista do abominável e nefando pecado de sodomia.”
O missionário francês descreve a execução arbitrária e sem autorização do Papa nem da inquisição em seu livro “História das Coisas Mais Memoráveis, Ocorridas no Maranhão nos Anos de 1613 – 1614”, comparando o índio gay recém batizado com São Dimas, o bom ladrão perdoado por Jesus no Calvário.
Luiz Mott destaca ainda que em 2014, no 4º centenário da morte de Tibira, o GGB conseguiu que o governo do Maranhão construísse um monumento com a imagem do índio no mesmo local em que foi executado, com a inscrição “Tibira do Maranhão, 1º Mártir da Homofobia no Brasil”.
Para dar continuidade à campanha iniciada em 2014, o GGB está exigindo o pedido de perdão público por parte da Superior Ordem dos Capuchinhos de Roma, já que a execução foi um ato de fundamentalismo.
“Ainda visando resgatar a heroicidade do primeiro mártir gay indígena brasileiro, vítima da homofobia religiosa, o GGB está enviando ofício à CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e ao novo Cardeal Arcebispo da Bahia Dom Sergio da Rocha, e de São Luiz, Dom José Belisário, solicitando formalmente que intercedam junto ao Vaticano para a abertura de processo de canonização do Tibira do Maranhão, alegando o precedente do Bom Ladrão, que apesar de seu passado pecaminoso, Jesus o perdoou garantindo-lhe um lugar como santo no céu”, destaca Mott.