Derrubando mitos: bissexualidade não é só ‘uma fase’
Bissexuais são pessoas que se relacionam afetiva, sexual ou emocionalmente com pessoas do mesmo gênero do que o seu e de um gênero diferente. Com o passar do tempo a pessoa bissexual pode se sentir mais atraída por um gênero ou outro, mas não deixam de ser bissexuais por isso.
O que não faltam são mitos em torno da bissexualidade, alguns deles foram tão difundidos nas frágeis cabecinhas preconceituosas que parecem ter se tornado realidade. Mas como sabemos, “mito” não passa de uma fantasia, na definição mais grosseira.
Um dos mitos mais comuns em torno da bissexualidade é que a pessoa está “indecisa” ou “confusa”. Não existe indecisão nem confusão. A sexóloga Ana Canosa, apresentadora do podcast Sexoterapia, do canal Universa, do UOL, explica que a bissexualidade “existe como orientação sexual e não pode ser classificada como uma fase de dúvida”. “E ser bi não é necessariamente ter 50% de atração pelos dois gêneros. É possível tender mais para um lado que para o outro”, afirmou.
A sexóloga aponta que não existe um conceito científico para a questão, que vem sendo estudada ao longo dos anos por especialistas de diferentes áreas. Segundo ela, Sigmund Freud desenvolveu uma teoria de que todos os seres humanos nascem bissexuais e popularizou essa ideia na obra “Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade”, de 1905.
“Ele deixava no ar a ideia de que nossa psique nasceria ‘flex’, e que ao longo do processo de desenvolvimento, vamos nos orientando mais para a heterossexualidade ou para a homoafetividade, e isso depende de uma série de fatores, inclusive da abertura de cada um”, explica Ana Canosa.
Para a sexóloga, a nova feração tem se mostrado mais aberta a se assumir como bissexual. Ela destaca uma pesquisa feita pela agência de publicidade J. Walter Thompson, com 1.632 pessoas em 2015, no Reino Unido, onde 43% dos jovens entre 18 e 24 anos se identificaram em algum espectro entre a heterossexualidade e a bissexualidade.
“Acho que o fato de essa geração estar mais livre do condicionamento binário heteronormativo favorece que eles se investiguem mais, sejam mais curiosos ou que permitam que determinados tipos de atração e desejo sejam mais palpáveis, venham mais para perto da sua orientação e sua atração. A juventude hoje tem mais essa liberdade de experimentar”, conclui Ana.
Mitos a serem derrubados
De acordo com o Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), os principais mitos a serem derrubados sobre a bissexualidade são os seguintes:
- Bissexualidade é uma fase transitória.
A bissexualidade é uma orientação afetivo-sexual que rompe com os padrões da normatividade binária. A sociedade tende a não validá-la e apontar as pessoas bissexuais como confusas.
- Uma mulher bissexual é mais aceita socialmente.
A mulher bissexual é fetichizada, na maioria das vezes por homens heterossexuais, que objetificam a relação sexual com duas mulheres ao mesmo tempo. A não aceitação social do homem bissexual vem da homofobia, que não válida sua prática sexual com outro homem.
- Bicurioso e heteroflex são referências a homens heterossexuais.
A bissexualidade é o termo utilizado para expressar a orientação afetiva e/ou sexual por mais de um gêneros, também relacionada às experiências e comportamentos sexuais, bem como fantasias e desejos. Porém pode haver pessoas que, por mais que se relacionem também com pessoas do mesmo gênero, não se identificam como bissexuais.
- Bissexuais são mais promíscuos.
A bifobia é uma forma de preconceito com as pessoas bissexuais, baseadas em estereótipos equivocados. Uma das formas de bifobia é a crença de que pessoas bissexuais são promíscuas. Outras formas de bifobia é creditar a infidelidade e transmissão de infecções sexualmente transmissíveis à bissexualidade.
